Alfa Romeo T33 e António Peixinho

Por António Peixinho.

"No que respeita ao Alfa 33, também existe uma história para contar.
Fui eu próprio a Milão experimentar um dos carros que a Autodelta tinha para venda. Estava impecável, funcionava perfeitamente, pelo que logo formalizei a encomenda, pagando a totalidade do preço pretendido.
Quando o carro chegou a Angola verificamos que não se tratava do mesmo Alfa 33 que eu tinha testado em Milão, uma vez que o habitáculo era bem mais pequeno (tinha sido feito para Nino Vacarella, que tinha baixa estatura) do que aquele que eu tinha conduzido no teste. A minha posição de condução ficou extremamente desconfortável, com as pernas dobradas e o corpo "torcido", e isso reflectia-se nos tempos por volta. Quanto ao motor - e apesar de termos ao nosso serviço, em permanência, um mecânico da Autodelta - o mesmo só trabalhou razoavelmente nas 6 Horas de Nova Lisboa de 1970, que venci, e numa outra corrida no Lobito. O motor teve problemas em todas as outras corridas, pois falhava às 7 mil rotações quando era suposto atingir as 9 mil rpm sem quaisquer dificuldades. Quando falhava, a única forma de recuperar o seu funcionamento era desligar e voltar a ligar a ignição. Uma trabalheira e um desconforto. Além disso, o carro era "pesado" e difícil de conduzir. E caro. Lembro-me que uma vez tivemos que substituir as 16 velas Bosch ( 2 velas por cilindro, dupla ignição) e que a "brincadeira" nos custou nada menos que 100 contos, ou seja, o preço de um Alfa Romeo de série naquela época.
Esta é a verdadeira (enfim, mais coisa menos coisa...) história da aventura da Alfa Romeo em Angola, através da Socoína, durante a década de 60 e princípios de 70.
António Peixinho (com uma "mãozinha" do tal fantasma)".


*Para quem não sabe, o Ghost Writer é José Guedes. 



 "Peixinho em Novo Redondo (1971) no Alfa Romeo T33 2,5L chassis #33015 . Atrás, colado, segue o seu opositor de sempre, Mario Araújo Cabral, vulgo "Nicha" do BMW 2800 CS Schnitzer". Comentário de Ricardo Duarte Kadypress


Em primeiro plano o pai de António Peixinho e uma senhora desconhecida. Santos Peras está depois da Alfa. Levavam a Alfa 33 para uma corrida ?

Com Christine Beckers, que na dedicatória diz que 'fará melhor na próxima vez"


Com Pinto da Fonseca, o homem forte da Alfa Romeo angolana, no stand da Socoína em Luanda

 
Nas 6 Horas de Nova Lisboa 1970, com Basil Van Rooyen


A caminho da vitória, em Nova Lisboa 1970

 
Foto de José Vaz

 
Foto de Toni Almeida


3 Horas da Huíla 1971. Vitória de "Nicha" Cabral em BMW Schnitzer 2800CS, com Peixinho a ficar em segundo. Os pilotos teriam combinado "andar devagar" durante uma hora e meia, para poupar os carros, mas "Nicha" terá aumentado o ritmo mais cedo que o previsto. Mas tudo acabou numa grande festa, uma vez que a tal "rivalidade" entre ambos era apenas uma fantasia para consumo local.

 
Mais uma imagem das 3 Horas da Huíla 1971. Colaboração de "Caluanda"

1971 - 6 Horas de Nova Lisboa, com Christine Beckers. O Alfa 33 não chegaria ao fim, por despiste. "Nicha" e Stuck seriam os vencedores.


1972 - Testes de pista no Autódromo de Luanda com o Alfa 33

 
Um lugar muito especial. O stand da Alfa Romeo em Luanda.


 VIII Circuito da Restinga do Lobito, 1970

6 Horas de Nova Lisboa 1970, com Pinto da Fonseca e Basil van Rooyen
Foto de José Guedes

" A respeito do Van Rooyen, não lhe pagamos nada.
Se gostava de gajas, não sei, pois esteve só 2 dias em nova Lisboa.
Sobre o carros, confessou que nunca esperou que o Alfa 33 acabasse a prova.
Durante a corrida, estava eu a conduzir, verifiquei que havia um condutor que fazia exactamente as mesmas trajectória que eu, pois via um risco de óleo em todo o percurso. Era ele. Quando vi a luz do óleo a acender, parei na box e constatamos que o tubo de óleo que ligava o radiador situado à frente até ao motor, colocado atrás, estava danificado por ter roçado no chão. Como tínhamos um sobressalente, o V. Rooyen lembrou-se desse tubo de reserva e imediatamente continuámos. Os nossos mecânicos não sabiam que fazer...
O V. Rooyen era simpático, cordial e muito profissional. Era um piloto de topo na África do Sul e chegou a coerrer em fórmula 1, mas em N. Lisboa faziamos os mesmos tempos por volta.
Quando a corrida terminou, entre a linha da chegada e as boxes situadas um pouco mais à frente, o motor partiu mas ninguém deu por nada, pois chegámos às boxes com a embalagem.
O mecanico a que me referi no outro mail e que talvez saiba do V. Rooyen é o Vervey."
Texto - António Fernando Peixinho
Foto - José Guedes, nas 6 Horas de Nova Lisboa 1970.



 
Fernando Coelho na 3 h Internacionais de 1973 - Autódromo de Luanda.
Foto de Mário Ribeirinho Soares



A história do Alfa 33, Chassis no. 75033015, Engine no. 001, segundo Kidston:

Unique specification combining greater power with early bodystyle
An ex-works veteran of major international competition restored to a high standard with over $200,000 of recent mechanical bills
Accompanied by a large quantity of spares for racing any Alfa Romeo Tipo 33 is special, but some more than others and this car arguably more than any: it is the sole known Tipo 33/2 to feature a factory 2.5 litre engine rather than the usual 2 litre, thus combining the prettiest bodystyle with greater performance. Deployed by the Autodelta works team for the 1968 season, the published race record of chassis ‘015’ reads as follows:
 

 1968
-Daytona 24 Hours (race no. 23, Andretti/ Bianchi), 6th
-Targa Florio (race no. 220, Vaccarella/ Schutz), retired
-Nurburgring 1,000Kms (race no. 5, Schutz/ Bianchi), 7th
-Mugello GP (race no. 3, Bianchi/ Vaccarella/ Galli), 1st
-Austrian 500Kms (race no. 6, Pilette), 4th

1969
Sold to Belgian Count Rudi van der Straten’s Racing Team VDS for the 1969 season, results were as follows:
-Monza 1,000Kms (race no. 19, Pilette/ Slotemaker), 8th
-Targa Florio (on loan to Autodelta- race no. 262, Vaccarella/ De Adamich), 39th
-Nurburgring 1,000Kms (race no. 16, Pilette/ Slotemaker), retired
-Spa 1,000Kms (race no. 16, Pilette/ Slotemaker), 6th
-Le Mans 24 Hours (race no. 36, Pilette/ Slotemaker), retired
As often happened with old racing cars after their frontline years, at the 1969 season’s end an attractive offer from a Portuguese driver saw ‘015’ headed for distant shores, arriving in the Portuguese colony of Angola where it was to continue racing, 1970-1974 until laid up with a friend of the owner as a result of the civil war. The car remained here, largely forgotten by the outside world, until a casual conversation between a French businessman stuck at Luanda airport and his local translator resulted in a trip to see ‘an old car’ he knew about in the local countryside. Amazed at what he was shown, the Frenchman- already an avid car collector- tracked down the owner to Lisbon whereupon negotiations began the acquire the Alfa- ultimately successful and involving dollars, a JVC video recorder, a moped and a spare Ford Cortina engine, all of which were presumably more immediately useful than a non-running old racing car. It took a few years more, however, to obtain permission to export the car which was finally airlifted out by Hercules cargo ‘plane to France where it sat again, under a tarpaulin, until sold at auction by Simon Kidston in December 1994.

At this point the car returned to Italy in the hands of a new owner where it was finally restored to its original 1968 appearance and condition, returning to the race track in the early 2000s. America was its next port of call where a caring enthusiast has looked after and raced it occasionally for the past five years: bills for $201,642 attest to this. A fascinating example of Alfa Romeo’s ‘60s glory days, it is now ready for the next chap






 Imagem proveniente do dossier de venda da Kidston. O local, data e evento, não constam da legenda.


Fotos: Facebook de António Peixinho
 Comentários de José Guedes 

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VIII Circuito da Restinga do Lobito - 1970
#1 - Alfa Romeo T33 (António Peixinho)

 

O Campeonato Provincial teve a sua decisão no Lobito, em Dezembro. Orgazinado pelo Lobito Sport Clube, o VIII Circuito da Restinga iria revelar o primeiro campeão provincial. À partida, tanto Nicha como António Peixinho podiam aspirar a vitória e nos treinos, foram os mais rápidos, embora o Alfa Romeo T33 precisasse de menos de 3,5 segundos para completar os 2.640 metros do traçado, do que o BMW 2002 Ti.
Carlos Bandeira Vieira ocupou o terceiro lugar na fila, com Emílio Marta e Carlos Conde a seguir.
A corrida revelou-se complicada para os favoritos, com Nicha a ter de abandonar o seu BMW nas boxes, continuando a prova no de Bandeira Vieira. Quanto a Peixinho, problemas com o cabo de embraiagem fizeram-no perder várias voltas. Quem ganhou com isto foi Emílio Marta, cujo GT40 funcionou com precisão de um relógio suíço, vindo a terminar a corrida com seis voltas de avanço sobre Herculano Areias no velhinho Lotus 47 comprado a Carlos Santos em 1968. António Peixinho ainda conseguiu salvar o terceiro lugar, assegurando a vitória no campeonato à frente de Nicha, que na prova não foi além da sexta posição.

Fotos: Tuku-Tuku

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